O filme de Henrique Goldman, Jean Charles, baseado em fatos reais, é uma trama que conta a história do mineiro que leva o nome do longa-metragem, o eletricista Jean [Selton Melo, de A Mulher Invisível], radicado em Londres e mais um dos tantos brasileiros que busca uma vida melhor para si e sua família fora do país.
Os 90 minutos do roteiro giram em torno da vida simples do eletricista que trabalha diariamente com o objetivo ter uma vida descente sem se esquecer as pessoas queridas. Estão com ele: o amigo Alex [Luís Miranda, de Meu Nome não Johnny], suas primas Vivian [Vanessa Giácomo] e Patrícia [Patrícia Armani].
Um fato curioso é que Jean interpreta o povo brasileiro presente em Londres. Ele é alegre, disponível, conhece a todos, está presente nas horas mais difíceis e também na alegria. Os roteiristas Marcelo Starobinas e Henrique Goldman criaram a pessoa perfeita no personagem de Jean. Se ele realmente era assim, só os familiares para nos dizer, mas a simplicidade e carisma do personagem do cinema cativam qualquer pessoa.
O ambiente por que passa o filme é o mais variado possível da capital britânica: edifícios em obras; praças; o famoso Big Ben; boates; ambiente familiar; roda de amigos, enfim, as imagens aéreas dão a dimensão do que é Londres, como também dá ênfase na “brasileirada” que trabalha sem cessar na Inglaterra. Destaque para uma das falas do protagonista sobre a presença dos brasileiros na terra dos patrícios.“A brasileirada aqui em Londres é que nem Gremlins, você joga água e nasce mais uns 300. Os brasileiros aqui não aproveitam a cidade, o que é Londres, só se vive para trabalhar. Muitos vêm e nem sequer aprendem o inglês porque não sossegam para pensar. O negócio é conseguir dinheiro”.
Jean é o jovem que não quer apenas dinheiro, como sua prima Vivian que a princípio está na cidade apenas para conseguir dinheiro para enviar à sua mãe que ficou doente em Gonzalez, interior de Minas Gerais; mas, o eletricista quer aproveitar cada segundo na terra que ele chama de “maravilhosa”, sonha também pegar a mochila, jogar nas costas e ganhar o mundo, viajar e ser livre.
O filme de Goldman é cheio de belas imagens de Londres. Mostra os brasileiros unidos e com saudades de seu país, denuncia um povo que também sabe se vingar se for preciso e mostra a solidariedade quando se mais precisa. A maior tristeza presente no longa é, sem dúvida, aquilo que não poderia faltar: a morte brutal de Jean Charles de Menezes, assassinado em 2005 no metrô de Londres. O filme é, de certa forma, um clamor por justiça que ainda ausente por falta de respeito entre os países ricos e emergentes, pobres e miseráveis.
A frieza da polícia britânica ao assassinar à queima-roupa Jean, e ao dar a notícia aos seus familiares é a mesma. O olhar semelhante, a falta de remorso com o fato, e o pouco caso em solucionar o erro, demonstram juntos a distância existente entre as nações, causada principalmente, pelo capitalismo que fala mais alto do que a vida.
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Há 2 anos